Estas fotografias inspiraram dois momentos poéticos
Houve um momento em que nos deixámos
de poder sentar no banco da praceta]
À sombra da árvore que chamamos nossa
Ao banco também chamamos nosso
É como se fosse nosso
Mas às vezes encontrávamos lá outro casal
Podiam ser nossos avós
Brincávamos que seríamos como aquele casal
Quando fôssemos velhinhos
Cediamos-lhes o lugar
Para se regalarem à sombra nos dias de estio
Passávamos e viamo-los a rir
Como se fossem crianças outra vez
Nunca mais os vimos lá sentados
O banco está vazio
A árvore está só ao frio da invernia
Curvada talvez com a força do vento
Quiçá com saudades dos amantes confinados
Abraçada a si própria
Entrevejo-a da janela de casa e pressinto o seu tronco
Corpo bifurcado, enlaçado como se fôssemos nós.
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Poema de Carla Castelo
Laços
Nunca ninguém deseja vazios,
daqueles em que nem as estrelas fazem sentido.
De magias esquecidas naquele segundo de vida,
inventamos fogo e chuva alternados mediante as horas,
cantamos e choramos navegando nos segundos de cada dia.
Sim, seremos esquecimentos quando os cheiros forem ausentes, de rebeldes palavras de coragem, de firmes muros de grandeza,
de sonhos repelidos pela passagem dos dias, de loucuras em cada estação.
Cada lugar meu não passará de cicatrizes curadas á força, de cada uma delas uma lição, marcas invisíveis guardadas na gaveta das memórias, num lugar recatado da luz para não se revelar.
Como outra vida se tratasse, na tua pele vejo caminhos, no teu toque memórias, nos olhos fechados lágrimas presas guardadas como escudos de outrora.
Bem haja o tempo da passagem das primaveras que de raras e leves brisas, levaram alguns dos tais pesos da alma.
Bem haja o tempo das chuvas fortes que ataram nas suas águas as dores para no rio se afastarem
Nos perdemos a nós, nos perdemos nos dias mas saudades deixam trilhos e não tem filtro nem explicação.
Vindo o vento de novembro, ou o sol quente do verão,
Tu seguras me,
Nem âncoras nos vão afastar nem por um só momento
Até sermos instantes e esquecidos
Segura me assim
Por um só momento
Seremos laços eternamente
Seremos só nós
Seremos um só
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Poema de Sofia Murta Alves
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Fotografias de Hervé Hette
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